Perguntas que Valem Ouro

As quinze Perguntas que Valem Ouro

Uma análise importante do que deve ser feito antes de se adquirir um ativo, seja uma ação ou um título emitido por uma empresa, é responder um questionário composto por quinze perguntas muito bem formuladas pelo pioneiro em consultoria de investimentos, Philip Arthur Fischer (autor do livro: “Ações Comuns, Lucros Extraordinários”, páginas 75 a 122, Ed. Saraiva, 2011) :

Pergunta sobre perenidade

  • “A empresa possui produtos ou serviços com potencial de mercado suficiente para viabilizar um aumento considerável nas vendas por diversos anos?”

Esta pergunta diz respeito a perenidade do produto ou serviço oferecido pela empresa. Isto também é uma das preocupações de Warren Buffett quando ele avalia uma possibilidade de aquisição de ativo.

Por exemplo, a indústria do chapéu que até a primeira metade do século 20 era um adereço obrigatório entre os homens, muito usado pelas mulheres e até por crianças naquela época. Investir numa indústria de fabricação do produto poderia ser um bom negócio já que se tratava de um item obrigatório e de uso diário, inclusive em festas e eventos.

Mas a partir da segunda metade do século 20, este item passou a não ser mais tão obrigatório como outrora e o seu uso foi aos poucos se esvaziando, de modo que os lucros daquelas fábricas que os produziram, restaram decisivamente comprometidos, bem como a rentabilidade de seus investidores.

Em resumo a indústria do chapéu não se mostrou ser uma atividade perene, ou seja, não responderia afirmativamente a primeira questão. 

Perguntas sobre receita e lucro

  • “A administração está determinada a continuar a desenvolver produtos ou processos que aumentariam ainda mais o potencial do total de vendas caso o potencial de crescimento das linhas de produção mais atraentes no momento já tenha sido explorado exaustivamente?”

Esta questão envolve pesquisa. Se a empresa está atenta em conseguir produzir produtos ou serviços que venham a aumentar o potencial de vendas, no caso dos produtos ou serviços já ofertados não estarem apresentando um aumento exponencial.

Estas despesas com pesquisa têm que fazer sentido, pois a empresa não pode simplesmente se endividar para lançar um novo produto ou serviço sem que realmente este produto ou serviço dê o retorno esperado.

Os resultados futuros devem ser suficientemente elevados ao ponto de neutralizar resultados ruins no período dos gastos com as pesquisas.

  • “Quais são os efetivos esforços da empresa, em pesquisa e desenvolvimento, com relação ao seu porte?”

Uma empresa deve investir em pesquisa e desenvolvimento de acordo com a sua capacidade financeira

Mas este investimento deve efetivamente proporcionar produtos ou serviços, que alavanquem as vendas e que esta metodologia seja replicada no futuro, para aumentar cada vez mais os seus lucros.

Pergunta sobre gestão

  • “A empresa possui uma organização em vendas acima da média?”

Não basta apenas ter um ótimo produto ou um excelente serviço, a empresa deve investir na área comercial, promover treinamento de seus vendedores para dominarem o conhecimento técnico necessário a uma boa venda, bem como se preocupar com canais de distribuição de modo a atender da melhor forma o comprador.

Mais perguntas sobre receita e lucro

  • “A empresa possui uma margem de lucro considerável”?

Para análise de margem de lucro de uma empresa, deve ser considerado um longo período de avaliação. 

O investidor não pode basear a sua análise em um lapso de tempo curto, no qual a empresa eventualmente tenha margem acima da média. O que, certamente, não irá corresponder a verdadeira lucratividade.

Outro ponto é a verificação do fator sazonalidade. Há empresas como as varejistas que em certas ocasiões no ano (como natal, black friday etc.) apresentam pontualmente lucratividade maior, em comparação com outros períodos. Dessa forma, deve-se considerar tanto os intervalos mais lucrativos quanto os menos lucrativos para medir a real lucratividade.

  • “O que a empresa faz para manter ou melhorar as margens de lucro?”

Muitos investidores somente olham as margens de lucro do passado para decidir acerca de um investimento, mas isso não é suficiente para tomada de decisão, pois o que realmente irá importar são as margens de lucro futuras, que vão potencializar a rentabilidade do investimento a longo prazo.

Uma empresa que somente majore a sua margem de lucro através do aumento de preços, deve preocupar o investidor. Mesmo inserida em um setor de alta demanda de produtos ou serviços. Com o aumento da concorrência, a elevação dos preços, poderá representar uma alternativa pouco viável a majoração da lucratividade. E, sem este expediente para as empresas dele dependente, a margem de lucro, certamente, irá desabar. 

Mais perguntas sobre gestão

  • “A empresa possui boas relações (trabalhistas) com o seu quadro de pessoal?”

É senso comum que as boas relações trabalhistas aumentam a produtividade de uma empresa. Os colaboradores sentem-se mais valorizados, o ambiente de trabalho melhora. O que é determinante para a elevação da eficiência produtiva.

No entanto, empresas com alta rotatividade, além de aumentarem os custos com os encargos trabalhistas, geram temeridade aos colaboradores. Diante da constante modificação do quadro funcional, o que resulta em improdutividade.

  • “A empresa conta com boas relações com seus executivos?”

Os executivos vão determinar o destino da empresa. Se há um clima favorável às boas relações com estes colaboradores. Estes irão se dedicar mais e mais para trazer os resultados que ao final vão rentabilizar o capital dos investidores. Também não terão interesse em trocar de empresa, o que evitará trocas constantes nas áreas com poder de decisão da empresa.

De outro lado, relações ruins trarão menos dedicação e saídas frequentes. Portanto, afetarão diretamente os resultados da empresa.

  • “A empresa conta com certa “profundidade” com relação à sua gestão?”

A cúpula que comanda a empresa deve de fato delegar funções. De modo que os seus colaboradores tenham liberdade de atuação e autonomia para resolução de problemas. Se há uma intromissão constante em tudo pelos comandantes, esta empresa não terá a evolução esperada e, certamente, não será um investimento atrativo. 

Esta liberdade de atuação e autonomia na solução de intercorrências oferece também a oportunidade de ouvir os colaboradores. A respeito do que pode mudar para melhorar a performance da empresa.

Pergunta sobre dívidas e despesas

  • ”Quão boa é a autoanálise de custos da empresa e o seu controle contábil”?

Os custos são um fator importantíssimo para a rentabilidade da empresa.

Os administradores da empresa devem conhecer detalhadamente cada etapa do custo do processo produtivo, da prestação de serviço e, da comercialização.

Tudo isso tem impacto decisivo na geração de lucro da empresa, quanto mais despesas menor os ganhos e, inversamente, quanto menor mais lucro. 

Sua importância é tão grande que pode ser determinante para a continuidade do negócio, custos altos podem inviabilizar as atividades da empresa.

Por esta razão, além de conhecer, os administradores devem manter um rígido controle contábil para identificar e reduzir os aumentos de despesas.

Pergunta sobre competitividade

  • “Há outros aspectos dos negócios da empresa peculiares ao seguimento de atuação envolvido, que possam dar ao investidor dicas importantes sobre como a empresa pode sobressair com relação à competitividade”?

Neste ponto, que diz respeito a alguma peculiaridade no negócio, que reflete na competitividade, podemos citar como exemplo a indústria farmacêutica. Um medicamento novo com um mercado enorme para suprir, pode alavancar as vendas especialmente pelo fato da proteção da patente. 

Por um período de tempo esta indústria poderá ter ganhos expressivos sem concorrência, o que pode despertar interesse do investidor atendo.

Mas a patente não é eterna e, quando ela não mais existir, a referida empresa terá que mostrar competência para manter os níveis de lucratividade do período da vigência da patente. Pois, caso contrário, terá um decréscimo na lucratividade, que certamente afetará os investidores. 

Este é mais um fator relevante para avaliação de um investimento. Por exemplo, se a empresa é dependente ou não de uma patente, para produzir lucros.

Mais perguntas sobre receita e lucro

  • “A empresa possui uma estratégia de curto ou de longo prazo em relação aos lucros e resultados?”

O investidor deve estar atento as empresas que procuram lucros e resultados no longo prazo.

Para tanto, importante notar como a empresa trata os seus vendedores e seus clientes. Aquelas que dão todo o suporte, nem que isso gere custos adicionais, consegue atender todos os clientes e, certamente, colherá os frutos no longo prazo.

Outras que não se importam em atender a todos e só visam não reduzir os ganhos imediatos, devem estar fora do radar do investidor atento.

  • “Será que, num futuro previsível, o crescimento da empresa exigirá uma parcela maior para investimentos sobre os resumos financeiros positivos a ponto de diminuir a distribuição de dividendos provenientes desse crescimento antecipado?”

Se a diminuição na distribuição de dividendos for causada por direcionamento de parcela do lucro para melhorar o processo produtivo, a prestação de serviço ou a comercialização. Com vistas ao aumento da rentabilidade ao longo prazo. O investidor não precisará ficar preocupado, pois, certamente, os dividendos futuros vão aumentar em vista da melhora da performance da empresa.

Perguntas sobre transparência

  • “A empresa fala abertamente com os investidores sobre os seus negócios quando as coisas vão bem, mas “se fecha “ em situações conturbadas e diante de decepções?”

Todas as companhias ao longo de sua existência passaram ou passarão por momentos de turbulência, por fatores internos (redução de pesquisa, escolhas erradas da administração e etc.). Ou externos (problemas macroeconômicos que afetam a todos).

Mas nestes períodos nebulosos é necessário manter a transparência e honestidade perante seus acionistas. Empresas que escondem sua real situação para passar uma falsa imagem de prosperidade, certamente, não são um investimento seguro no longo prazo.

  • “A empresa conta com uma diretoria de integridade inquestionável?”

Muitos ocupantes de cargo diretivo utilizam a empresa como meio para obter ganho pessoal, de modo que a companhia tenha prejuízo e o diretor tenha lucro. 

Os investidores atentos devem se afastar deste tipo de empresa, pois estes mesmos diretores podem ser o fator decisivo para a derrocada financeira da empresa.

Para concluir

Responda estas quinze perguntas e saberá se vale ou não investir em determinada empresa, cujas ações você pretende adquirir.

Estas respostas, certamente, indicarão potencial de produção de receitas e, consequentemente, lucros. Controle de despesas. Gestão. transparência. Competitividade. Além disso, se o negócio da empresa é perene ou não.

Acima de tudo, ao fazer estas perguntas, você aumentará suas chances de uma escolha mais assertiva.